sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Retrato de um momento

“O essencial é invisível aos olhos. Só se vê bem com o coração.”
in “O Principezinho”, de Saint-Exupéry

Ao longe o mar.
No ar, um breve odor marítimo pintalgava o cenário campestre.
As portas deixavam sair o ruído metálico e contínuo das máquinas em movimento. Por detrás de cada máquina uma mulher de fato azul celeste. Por vezes, cirandavam pelos corredores alguns homens envergando batas de um verde suave.
Na sala, rostos exprimindo vidas coloridas, rugas traçando diversas histórias de vida.
Dificuldade inicial: fixar 62 nomes próprios de uma só vez.
Os dias iam avançando, as semanas passavam e os sorrisos iam-se alastrando. “Criavam-se laços”. Os olhos bombardeavam, dúbios, com perguntas ansiosas. Depois, as dúvidas dissiparam-se e os rostos amigáveis divertiam-se “destravando” a língua, libertando medos e angústias, desnudando a alma.
Como “papalaguis” sabedores atravessavam a lagoa de canoa. Tropeçavam em dificuldades mas logo voavam que nem “Fernãos” sonhadores em busca de respostas e de soluções para as suas dúvidas. De pena na mão, imaginaram palavras afectuosas a Tony Carreira, a Soraia Chaves, a Tony Ramos e viajaram até ilhas longínquas, narrando peripécias aquando de uma tempestade nocturna. Deleitaram-se, ainda, com paisagens nacionais, dentro de um comboio e sentiram a grandiosidade da música.
Os rostos, ausentes agora do trilho quotidiano, pululam nas bouças, cirandam por entre os pampilhos. Saltitam por detrás de cada rosa vermelha, por detrás de cada flor.
Abelhas que somos, dançando de flor em flor, tentando adocicar a vida de cada um, pincelando trilhos. Procuramos, que nem arqueólogos da vida, desocultar riquezas encobertas.
Ao longe o mar, ao longe gestos de grande beleza interior, ao longe sorrisos sinceros, ao longe olhares de esperança pousados num horizonte diferente.
Inícios de Outono.
Reencontro.
O local habitual de trabalho transformara-se. Vozes calaram a música repetitiva das máquinas. Seguiu-se uma entrega de diplomas memorável. 60 diplomas a escorregarem das mãos de alguém que normalmente se esconde e vagueia dentro da caixinha que mudou o mundo.
Emoções serpenteavam nas faces marcadas pela sapiência de vida. Risos rasgavam rostos gratos e o calor derretia a ansiedade fria que inicialmente os toldara. Levaram o diploma, a recordação e a saudade.

2 comentários:

SFreitas disse...

Perfeito!
Ninguém teria descrito melhor o cenário, as sensações, os laços...
Nós que lá estivemos sabemos que foi assim!

Unknown disse...

Que boa surpresa!
Que bela descrição de uma colecionadora de experiências!
Parabéns!
Virei visitar mais vezes

Maria João Fonseca