sexta-feira, 1 de maio de 2009

A relevância da língua francesa

“Quem aprende uma nova língua adquire uma alma nova.”
Juan Ramon Jiménez


Em casa cirandava um odor a profiteroles, pinceladas de chocolate preto, acompanhado com a voz rouca mas firme de Jacques Brel. Ela rodopiava, numa dança frenética, com Joe Dassin e tentava imitar os “rr” guturais de Piaff, sem qualquer êxito. Na mochila da escola, a revista “Salut” para conhecer um pouco mais sobre a música francesa e saborear o paladar doce e sensual da língua francesa. No sofá, deleitava-se com os movimentos intensos de Sergei Itovitch e bebericava, sedenta, as delícias do Bolero de Ravel. Iniciava-se na 7ºarte com Claude Lelouch. Depois seguiram-se as peripécias de Louis de Funès, de Bourvil e Fernandel. Quando as janelas choravam, ela deixava-se submergir no mar da nona arte e apreciava, de forma sôfrega, a obra de Goscinny e Uderzo e procurava seguir, curiosa, os passos do jornalista criado por Hergé. Depois, pelas mãos de alguns construtores de identidade, foram entrando outros nomes, outras obras que lhe foram acentuando o gosto pela Língua Francesa.
Agora, por vezes, odores de crepes multicolores vagueiam pela casa, tentando a curiosidade de novos habitantes; a voz saltitante mas doce de Mylène Farmer acompanha os movimentos deslizantes do carro e algumas obras de Comès ou de Schuiten e Peeters escondem-se por detrás de um portátil e de cópias para uma aula do dia; outras vezes, da sua carteira, tesouro impenetrável, espreita Marguerite Duras ou mesmo Françoise Sagan.

Num mundo envolto por conceitos como a globalização e a diversidade cultural, é essencial para qualquer cidadão saber uma ou mais línguas estrangeiras. Numa época de modismos e de aparências, é muito fácil cair-se na tentação de seguir o que é imposto pelos média e pela sociedade. Apesar de vozes de alguns velhos do Restelo anunciarem o iminente esvanecer da Língua Francesa, penso que também olvidam que a mesma é a sexta língua mais falada mundialmente; é utilizada frequentemente nas organizações internacionais (União Europeia, Nações Unidas, Comité Olímpico) e que a mesma está muito associada aos valores civilizacionais e à cultura.
Quando tudo se resume a preconceitos, parece-me que alguém está a trilhar caminhos muito tortuosos; isto é, quando há a tendência para associar de imediato a língua francesa ao emigrante, penso que o bom senso deixou de existir. É natural que as pessoas que trabalham muito tempo num país que não é o delas, absorvam palavras e expressões do mesmo! No entanto, a realidade actual é totalmente diferente, pois o emigrante de outros tempos deu agora lugar a um novo emigrante que ocupa posições de destaque e contribui para um melhor conhecimento de uma nação. Não será isto um motivo de orgulho?
Então por que razão devemos escolher, para além da língua inglesa ou outras línguas, a língua francesa?
Porque é uma língua que, em termos de sonoridade, é bela;
Porque é uma língua rica e em constante evolução;
Porque é uma língua ainda muito utilizada no mundo e, principalmente, nas organizações internacionais;
Porque é uma língua que está também associada a uma cultura grandiosa que nos ofereceu artes repletas de magia: a sétima e a nona artes, respectivamente;
Porque é ainda a chamada “língua do amor”;
Porque é uma língua que ainda exerce um fascínio invulgar em muitas pessoas.
T.G.