22 horas.
Chegada a casa. O tilintar metálico das chaves aterrava na mesa da sala.
Silêncio perfumado vindo do recanto enevoado dos sabores, e tu não sabias onde os teus se encontravam.
Estranhamente, dormiam candidamente numa das camas dos petizes, cobertos pelas histórias clássicas da Disney. Suspiro. Alívio. Hoje não precisavas de os deitar nem de lhes preparar o jantar, como acontecia inúmeras vezes. Hoje tinhas todo o tempo do mundo. E que fazer com ele?
A fábrica corroera-te a vontade e apetecia-te renderes-te à voz lânguida e sedutora do sofá amornecido. Na televisão, imagens rápidas que não exigiam o esforço do teu cérebro adormecido. A lareira convidava a lançares-te nos braços de Morfeu.
De repente, lembraste-te da frase que leras ontem, aquando do filme do “Clube dos Poetas Mortos” e consciencializaste-te que este tempo calmo que possuías hoje, poderia desaparecer amanhã.
“Carpe Diem!”. Aproveita o tempo!
Era isso que devias fazer! Mas como?
O recanto dos sabores estava impecavelmente limpo; a revista da programação televisiva e a revista das fofocas sociais já tinham sido lidas pormenorizadamente; o almoço para o dia seguinte já tinha sido adiantado... que fazer?
Começaste a tocar aquela interminável música de sempre no comando da televisão na esperança de encontrares a resposta. A seguir, arrumaste a pilha periclitante de roupa que ainda te esperava e depois espreitaste, carinhosamente, a tua descendência.
Sala. Olhaste de esguelha para a estante empoeirada. Lá estava aquele livro de que te tinha falado aquela amiga, amante da leitura.
Levantaste-te e aproximaste-te dele. Algo te chamava e abraçaste-o timidamente.
Folheaste as folhas uma a uma, com a sofreguidão de um esfomeado e perdeste-te num universo imaginário, rodeado de sombras, de vozes, de caminhos.
4 da manhã. Dormias a seu lado, estranhando o seu odor desconhecido mas apetecível. Não podias ler mais! Começavas a trabalhar às oito em ponto!
Mas ainda poderias ler antes de chegar ao trabalho... poderias ler aquando da espera do metro, aquando do teu almoço solitário na cantina, aquando da ida ao médico, em vez de te concentrares nas conversas deprimentes e cinzentas dos outros pacientes.
Sorriste.
Sentias-te novamente viva e como se te tivesses apaixonado pela primeira vez. Uma sensação arrepiante percorreu-te! Sabias agora que aproveitando bem o teu tempo, conseguirias sempre laborar, conviver com os outros, afagar os teus e procurar-te um pouco nos braços do teu novo amigo – o livro.
Chegada a casa. O tilintar metálico das chaves aterrava na mesa da sala.
Silêncio perfumado vindo do recanto enevoado dos sabores, e tu não sabias onde os teus se encontravam.
Estranhamente, dormiam candidamente numa das camas dos petizes, cobertos pelas histórias clássicas da Disney. Suspiro. Alívio. Hoje não precisavas de os deitar nem de lhes preparar o jantar, como acontecia inúmeras vezes. Hoje tinhas todo o tempo do mundo. E que fazer com ele?
A fábrica corroera-te a vontade e apetecia-te renderes-te à voz lânguida e sedutora do sofá amornecido. Na televisão, imagens rápidas que não exigiam o esforço do teu cérebro adormecido. A lareira convidava a lançares-te nos braços de Morfeu.
De repente, lembraste-te da frase que leras ontem, aquando do filme do “Clube dos Poetas Mortos” e consciencializaste-te que este tempo calmo que possuías hoje, poderia desaparecer amanhã.
“Carpe Diem!”. Aproveita o tempo!
Era isso que devias fazer! Mas como?
O recanto dos sabores estava impecavelmente limpo; a revista da programação televisiva e a revista das fofocas sociais já tinham sido lidas pormenorizadamente; o almoço para o dia seguinte já tinha sido adiantado... que fazer?
Começaste a tocar aquela interminável música de sempre no comando da televisão na esperança de encontrares a resposta. A seguir, arrumaste a pilha periclitante de roupa que ainda te esperava e depois espreitaste, carinhosamente, a tua descendência.
Sala. Olhaste de esguelha para a estante empoeirada. Lá estava aquele livro de que te tinha falado aquela amiga, amante da leitura.
Levantaste-te e aproximaste-te dele. Algo te chamava e abraçaste-o timidamente.
Folheaste as folhas uma a uma, com a sofreguidão de um esfomeado e perdeste-te num universo imaginário, rodeado de sombras, de vozes, de caminhos.
4 da manhã. Dormias a seu lado, estranhando o seu odor desconhecido mas apetecível. Não podias ler mais! Começavas a trabalhar às oito em ponto!
Mas ainda poderias ler antes de chegar ao trabalho... poderias ler aquando da espera do metro, aquando do teu almoço solitário na cantina, aquando da ida ao médico, em vez de te concentrares nas conversas deprimentes e cinzentas dos outros pacientes.
Sorriste.
Sentias-te novamente viva e como se te tivesses apaixonado pela primeira vez. Uma sensação arrepiante percorreu-te! Sabias agora que aproveitando bem o teu tempo, conseguirias sempre laborar, conviver com os outros, afagar os teus e procurar-te um pouco nos braços do teu novo amigo – o livro.
T.G.