sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Carpe Diem ou a Gestão de Tempo

22 horas.
Chegada a casa. O tilintar metálico das chaves aterrava na mesa da sala.
Silêncio perfumado vindo do recanto enevoado dos sabores, e tu não sabias onde os teus se encontravam.
Estranhamente, dormiam candidamente numa das camas dos petizes, cobertos pelas histórias clássicas da Disney. Suspiro. Alívio. Hoje não precisavas de os deitar nem de lhes preparar o jantar, como acontecia inúmeras vezes. Hoje tinhas todo o tempo do mundo. E que fazer com ele?
A fábrica corroera-te a vontade e apetecia-te renderes-te à voz lânguida e sedutora do sofá amornecido. Na televisão, imagens rápidas que não exigiam o esforço do teu cérebro adormecido. A lareira convidava a lançares-te nos braços de Morfeu.
De repente, lembraste-te da frase que leras ontem, aquando do filme do “Clube dos Poetas Mortos” e consciencializaste-te que este tempo calmo que possuías hoje, poderia desaparecer amanhã.
“Carpe Diem!”. Aproveita o tempo!
Era isso que devias fazer! Mas como?
O recanto dos sabores estava impecavelmente limpo; a revista da programação televisiva e a revista das fofocas sociais já tinham sido lidas pormenorizadamente; o almoço para o dia seguinte já tinha sido adiantado... que fazer?
Começaste a tocar aquela interminável música de sempre no comando da televisão na esperança de encontrares a resposta. A seguir, arrumaste a pilha periclitante de roupa que ainda te esperava e depois espreitaste, carinhosamente, a tua descendência.
Sala. Olhaste de esguelha para a estante empoeirada. Lá estava aquele livro de que te tinha falado aquela amiga, amante da leitura.
Levantaste-te e aproximaste-te dele. Algo te chamava e abraçaste-o timidamente.
Folheaste as folhas uma a uma, com a sofreguidão de um esfomeado e perdeste-te num universo imaginário, rodeado de sombras, de vozes, de caminhos.
4 da manhã. Dormias a seu lado, estranhando o seu odor desconhecido mas apetecível. Não podias ler mais! Começavas a trabalhar às oito em ponto!
Mas ainda poderias ler antes de chegar ao trabalho... poderias ler aquando da espera do metro, aquando do teu almoço solitário na cantina, aquando da ida ao médico, em vez de te concentrares nas conversas deprimentes e cinzentas dos outros pacientes.
Sorriste.
Sentias-te novamente viva e como se te tivesses apaixonado pela primeira vez. Uma sensação arrepiante percorreu-te! Sabias agora que aproveitando bem o teu tempo, conseguirias sempre laborar, conviver com os outros, afagar os teus e procurar-te um pouco nos braços do teu novo amigo – o livro.

T.G.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

O processo de RVC para mim foi...

Foi para mim muito importante.
Realizei-me ao frequentar o Centro de Novas Oportunidades para obter o nono ano.
Foi para mim um sonho muito expressivo na minha realização, embora tardia, mas obtive-a, consagrada pelos respectivos diplomas.
Quando me apercebi, pelos jornais diários, da criação das Novas Oportunidades, pensei que era uma oportunidade para concretizar o meu velho e saudoso sonho e continuar a estudar.
Dirigi-me ao Centro e vi se isso era possível ou não, já que tinha 83 anos de idade.
Recebeu-me um técnico. Pareceu-me que ficou admirado com a minha idade e deixou transparecer muita gentileza ao tratar-me bem e ao aceitar-me de boa-vontade no processo. Explicou-me tudo com a maior clareza e tratava-me sempre com deferência e generosidade. Chegou a dizer, em sessão, para todos os participantes: "O senhor Vitorino, apesar da sua idade avançada, vejam se não está ali atento como um jovem!".
As formadoras, no decorrer das sessões, sempre me estimaram e, quando se apercebiam que tinha alguma dificuldade, procuravam sempre ajudar-me. A turma que, pensava eu, me iria repudiar, sendo eu o mais velho ali presente, sempre me tratou como um patriarca.
Mas com 85 anos, quando acabei, senti-me outro e rejuvenescido, mais preparado para discursar em público, em qualquer situação!
No fim, fiquei com um certificado. Foi um marco para mim!
Vitorino Rocha
(RVC NB)

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

O Teatro e eu

Há pancadas!
E na sala o silêncio toma o seu lugar.
Corações batem mais forte, quando se ouve a frase:
O espectáculo vai começar!

Abre-se o pano e eu já não sou eu,
Ali já não existo, voei, transportei-me para um outro patamar:
Adormeci… e outro ser envolveu o meu corpo.
Sou o Zé Augusto,
Humilde, triste e cego.

Como é bom poder viver outra vida,
Outro personagem.
Poder exteriorizar sentimentos,
Raiva, ódio, paixão, prazer e loucura.

O teatro é sonho,
O teatro é entrega,
O teatro… é vida!

Penso em ti, sozinho,
Onde o palco é só meu…
E o teu sorriso vislumbro,
Numa ânsia de te ver.


Manuel Vilaça
(RVC NB)

Rosa Vermelha

Deténs um toque feminino
Muito exigente
Como que o mar enrola
Nos teus cabelos frisando-os
As brisas amaciarão
E darão a forma que tanto gostas
Teu corpo é poema nos seios com melodia
Só aceitas o que a tua alma desperta...
Procurei buscar
O teu olhar no meio das ondas
Senti a tua coragem
Em nela navegar aventura
Rosas soltam perfume da maresia
O vento sopra
Ao de leve
Como que um búzio...
Encostado no teu peito
Sentindo palpitações da paixão
Um mar cheio de pétalas vermelhas
Pétalas que se perdem num olhar
O silêncio pela angústia
Que esmorecem no tempo
Teus cabelos esvoaçam entre os dedos
Deslizando como um toque de silêncio
Silenciado pelo sufoco de um sentimento
Senti o estremecer
Das tuas mãos ao anoitecer
Desejos ardentes que não se apaguem
A imaginação também alimenta


Aniceto Pires
(RVC NS)

Uma proposta para o RVC Nível Secundário

As idades do homem

“O mundo inteiro é um palco
Todos os homens e mulheres não passam de actores,
Têm as suas entradas e as suas saídas;
E na sua vida desempenham muitos papéis;
Os seus actos têm sete idades.
Primeiro, a criança, gritando e babando nos braços da ama.
Depois o aluno chorão, com a sua pasta e a sua brilhante face matinal, vai-se arrastando como um caracol de má vontade para a escola.
E depois o apaixonado, suspirando como uma fornalha, com uma balada triste composta para a sobrancelha da sua namorada.
Mais tarde um soldado, cheio de estranhos juramentos, e barbado como um leopardo, zeloso de honra, e violento e rápido na luta, buscando a bolha de ar que é a fama até na boca do canhão.
E depois a vez do juiz, com a sua barriga redonda recheada por um bom capão, de olhos severos e a barba de corte formal, cheio de sábios refrões e exemplos modernos; E assim representa o seu papel.
A sexta idade se transforma em calças largas e chinelos, com óculos no nariz e a bolsa do lado, os seus calções da juventude, bem conservados, demasiadamente largos para as suas magras canelas; e a sua forte voz viril, transformando-se novamente em falsetes infantis, apita e assobia o seu som.
A última cena de todas, que põe fim a esta estranha história cheia de acontecimentos, é uma segunda infância e um simples esquecimento, sem dentes, sem olhos, sem paladar, sem nada.”


William Shakespeare

(Dramaturgo e poeta inglês, William Shakespeare é reconhecido como o maior dramaturgo de todos os tempos. Suas obras foram amplamente publicadas e traduzidas para todas as principais línguas do mundo. Nasceu em Abril de 1564 e morreu em 23 de Abril de 1616).

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Propomos-lhe que, após leitura do texto, reflicta sobre o seu teor e (re)veja-se numa perspectiva de si, sobre si e para si.

Reflicta sobre a sua experiência formadora, (adquirida ao longo da sua vida) como um processo de transformação e atribuição de sentido.

Componha a sua narrativa biográfica, tendo em vista o seu PRA, produzindo reflexões e estabelecendo compromissos, objectivos, desafios e estratégias.
Exercício proposto por:
C.Q.
E.O.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Caminhar

CAMINHAR

Caminhar significa muito mais
Que o simples gesto de mexer os pés numa direcção.
Caminhar é seguir numa estrada,
Onde os obstáculos da vida vão surgindo:
A tristeza,
A solidão,
A dor,
A doença…
É preciso que os meus pés saudáveis de todas as maleitas,
Saibam caminhar ao encontro do irmão que precisa de mim.
O caminho tortuoso da vida
É um livro fechado,
Que se vai abrindo a pouco e pouco,
Tornando visível o caminho de cada um traçado pelo destino.
Tenho que me lembrar sempre,
Que posso a qualquer momento deixar de caminhar,
E talvez aí repare o quão importante é na minha vida,
Repartir os meus passos com o irmão que sofre.
Que o meu caminho seja sempre feito com a consciência de que,
Devo abrandar a minha marcha
Quando ao longo do percurso,
O AMOR,
A AMIZADE,
A CARIDADE
E A ENTREGA
ME PÕEM À PROVA…

E FAÇA O FAVOR DE SER FELIZ!

Manuel Vilaça
(RVC NB)