segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Um exemplo de Portefólio...


Portefólio de Márcia Amaro
(RVC NB)

domingo, 14 de dezembro de 2008

Sobre o RVC...

Eu, que até trabalho neste projecto e sei bem como ele funciona...
Eu, que sei que este programa envolve um trabalho sério e que não é a bandalheira que todos os que estão por fora julgam que é...
Eu, que trabalho com profissionais bastante competentes e que acreditam e gostam daquilo que fazem e que se desdobram para atingir as tão ousadas metas...
Eu, que trabalho com adultos para os quais este projecto era imprescindível dadas as imensas competências que têm e a grande dificuldade em frequentar o tão desajustado ensino recorrente...
Eu...não deixei de ficar chocada com as declarações do responsável da ANQ (a agência que nos tutela e "controla")...
Não estou desiludida nem sequer surpresa...os acontecimentos gerados pelo nosso governo relativamente às tão famosas e desesperantes ESTATÍSTICAS têm-me habituado às mais fantásticas artimanhas e manhosices por parte dos nossos fantásticos ministros (e PM, claro!) e em particular da nossa fantástica MLR... Mas fiquei CHOCADA com tão descaradas declarações a visar ÚNICA e EXCLUSIVAMENTE os números...os números...os números...e os números...e eu que gosto tanto de números :( (e de Estatística!!...).
Em baixo faço a transcrição da notícia que encontrei no site da TSF, a qual fui à procura após ter ficado "aparvalhada" com as declarações que me pareceu ter ouvido esta tarde na mesma rádio...

"O presidente da Agência Nacional para a Qualificação, Luís Capucha, revelou, esta terça-feira, que os objectivos deste programa dificilmente serão atingidos até 2010. A meta traçada era de um milhão de certificados, mas nesta altura estão apenas atribuídos 100 mil.O número de portugueses com mais habilitações por via do programa “Novas Oportunidades” está muito longe do ambicionado. Luís Capucha revelou que, entre 2006 e o final do passado mês de Novembro, garantiram o diploma das “Novas Oportunidades” cerca de quatro mil pessoas por mês.O presidente da Agência Nacional para a Qualificação afirmou que, desta forma, o ano de 2010 vai terminar com menos de 250 mil adultos certificados, ou seja, cerca de um quarto da meta de um milhão traçada pelo Governo.Perante tais dados, o responsável pelo programa avisou que é preciso atribuir mais diplomas.«É impensável ficarmos com esta dinâmica. Nós teremos de crescer efectivamente para uma média de cerca de 29 900 ao mês, isto é, temos de multiplicar por sete o nosso esforço de certificação», afirmou este responsável. Segundo os dados oficiais, de 2006 para 2007, o número de certificados quase duplicou, mas mesmo que tal tendência se mantenha, o presidente da Agência Nacional para a Qualificação afirmou ser necessário muito mais.«O ritmo tem de ser bastante maior, temos de subir os números para cerca de 200 por cento ao ano, e aí, certamente atingiremos os objectivos», considerou Luís Capucha. Os responsáveis pelo programa “Novas Oportunidades” têm negado qualquer tipo de pressão sobre os centros para o cumprimento de objectivos.Um ano após a atribuição dos primeiros diplomas do secundário, a tutela reconheceu que as metas provocaram algum desassossego".
Desculpem o desabafo, mas não gostei!
S.F.

sábado, 13 de dezembro de 2008

Natal II



Aniceto Pires
(RVC NS)

A dúvida com certeza na incerteza da dúvida

Se perguntar a um cego se quer ver, a resposta é sim, com certeza. Mas na vida, as certezas são poucas, ou nenhumas.
Quando pensei em escrever um texto, que para mim é uma tarefa árdua, devido à ausência de jeito para a escrita, tive dúvidas quanto a este propósito. Mas a noite ajuda, e a certeza da necessidade de exprimir no papel os meus sentimentos prevaleceu.
O desafio está lançado.
Procuro agora a alma. "É Natal". Não quero pensar nos meus entes queridos que já partiram. Época alegre e triste, quadra de lágrimas e sorrisos, de actos eufóricos e de desânimo. Queria que nunca existisse este tempo de alegria que me põe triste. Recordações de amor e ódio, de amor platónico com frases possuídas de eufemismo. Quando a vida caminha ao lado da morte, os passos são dados com dor e sofrimento. A tristeza e a saudade, ao lembrar os dias felizes de outrora. O olhar que vagueia, o sorriso que mente, os lábios que traem, dão-me a certeza que não importa como vive a alma, o coração. O Natal existe. E, se algum dia tiver dúvidas, perguntarei a um cego se quer ver. Então, esquecerei os meus fantasmas, o meu coração encontrará a paz que “Aquele Menino” veio anunciar. Sentirei o amor que me rodeia, e, perceberei o sentido de Natal, a certeza da dúvida.
Rita Sousa
(RVC NS)

A nossa terra é sagrada

"Carta do Chefe Índio Seattle ao Grande Chefe de Washington, Franklin Pierce, em 1854, em resposta à proposta do Governo norte-americano de comprar grande parte das terras da sua tribo Duwamish, em troca da concessão de uma reserva."

Comentário:

A cultura indígena é muito pessoal e característica. E por contraditório que pareça apesar da “cultura do homem branco” ser mais evoluída e ter a vertente do progresso nas veias, a cultura do “homem vermelho” consegue alcançar o que o “homem branco”esquece vivendo numa sociedade consumista, virada para o progresso e para o lucro:
A preservação e valorização da natureza como ponto fulcral de um desenvolvimento sustentável.
“O homem branco” tem vindo a apoderar-se da terra que nunca foi sua, nem nunca será pois todos os seres vivos têm um princípio e um fim. E ao longo dos anos têm vindo a maltratá-la apesar dos alertas que nos chegam de todos os lados. Ignoramos tudo e todos e mantemos a mesma postura de crueldade e desrespeito em troca de “lucros”.
Não há nada nem ninguém que faça parar este “egoísmo”, mas já se está a notar a força da natureza com temperaturas adversas, tempestades, furacões, terramotos, sismos… Estas consequências parecem não ser suficientes para parar estas atitudes do “homem branco”.
Esta carta choca-me profundamente, ao aperceber-me que nós homens queremos apoderar-nos de tudo aquilo que nunca poderá ser nosso, tentando vender aquilo que nos foi dado (terra, água e sol), cometendo assim uma das maiores atrocidades contra o nosso planeta “Terra” como vem a explicar o Chefe Índio Seattle da tribo Duwamish ao recusar a venda das terras onde se encontra instalada a sua tribo. Dando alguns exemplos: “Como podereis comprar ou vender o céu; Como podereis comprar ou vender o calor da terra; A água que desce os ribeiros e os rios não é apenas água, é o sangue dos nossos antepassados; Também os rios são nossos irmãos; Não há um pedaço de terra que não seja sagrado; Nós “pele-vermelha amamos a terra como uma criança ama o bater do coração da sua mãe”.
Paulo Silva
(RVC NS)

Natal


Com musgo se fazem lindos presépios
Em criança corrias para os construir
Fazias personagens de papel
Nunca deverias crescer
Construir fortalezas...
Só com musgo...
E de papel!...



Feliz Natal


Aniceto Pires
(RVC NS)

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Poema da minha adolescência

Eu queria poder o que não posso,
Ouvir o que não ouço,
Sentir o que não sinto.
Eu queria ter a independência da palavra LIBERDADE
Mas não posso, não posso!
Não posso porque tenho um dono -a Sociedade.
Estou presa à vaidade da minha comunidade.
Eu não sou EU. Não posso ser EU , já nem quero ser Eu.
A minha personalidade morreu "Se é que algum dia tive personalidade".
Eu queria escrever uma carta ao mundo,
mas sem ter medo do que nela tivesse escrito.
Eu queria ter a verdade das pedras, dos rios, do sol, do céu e não a mentira das pessoas que são como eu.

Ana Cruz
(RVC NS)

As Novas Oportunidades

As Novas Oportunidades......
Quantas vezes na vida temos Novas oportunidades???
Quantas vezes na vida temos Novas Amizades???
Quantas vezes na vida temos Novas...

Todos os dias ao acordar sei que tenho uma nova Oportunidade. Ou várias!!!
De uma coisa tenho a certeza, é que tenho a oportunidade de ter Novas Oportunidades.
Faz alguns meses que me surgiu uma Nova Oportunidade a qual eu a agarrei de corpo e alma, até porque é daquelas Oportunidades que não surgem todos os dias e estou na fase de concretizar uma meta, para partir para outra.
Não quero parar por aqui, quero mais e mais ainda.

Tenho 45 anos de vida e nunca parei de crescer/aprender, mas quero mais, muito mais anos de vida e muitas mais Novas Oportunidades.
Hoje é um dia especialmente triste pata mim, faleceu um amigo com cancro. Porquê?
Porque se investe tanto em armas, e tão pouco na medicina?
Porque se investe por investir quando é preciso investir em investigação?
Será que essas pessoas não têm amigos?
Será que essas pessoas têm noção do que é solidariedade?
Será que são pessoas....?


José Mendonça
(RVC NS)

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Carpe Diem ou a Gestão de Tempo

22 horas.
Chegada a casa. O tilintar metálico das chaves aterrava na mesa da sala.
Silêncio perfumado vindo do recanto enevoado dos sabores, e tu não sabias onde os teus se encontravam.
Estranhamente, dormiam candidamente numa das camas dos petizes, cobertos pelas histórias clássicas da Disney. Suspiro. Alívio. Hoje não precisavas de os deitar nem de lhes preparar o jantar, como acontecia inúmeras vezes. Hoje tinhas todo o tempo do mundo. E que fazer com ele?
A fábrica corroera-te a vontade e apetecia-te renderes-te à voz lânguida e sedutora do sofá amornecido. Na televisão, imagens rápidas que não exigiam o esforço do teu cérebro adormecido. A lareira convidava a lançares-te nos braços de Morfeu.
De repente, lembraste-te da frase que leras ontem, aquando do filme do “Clube dos Poetas Mortos” e consciencializaste-te que este tempo calmo que possuías hoje, poderia desaparecer amanhã.
“Carpe Diem!”. Aproveita o tempo!
Era isso que devias fazer! Mas como?
O recanto dos sabores estava impecavelmente limpo; a revista da programação televisiva e a revista das fofocas sociais já tinham sido lidas pormenorizadamente; o almoço para o dia seguinte já tinha sido adiantado... que fazer?
Começaste a tocar aquela interminável música de sempre no comando da televisão na esperança de encontrares a resposta. A seguir, arrumaste a pilha periclitante de roupa que ainda te esperava e depois espreitaste, carinhosamente, a tua descendência.
Sala. Olhaste de esguelha para a estante empoeirada. Lá estava aquele livro de que te tinha falado aquela amiga, amante da leitura.
Levantaste-te e aproximaste-te dele. Algo te chamava e abraçaste-o timidamente.
Folheaste as folhas uma a uma, com a sofreguidão de um esfomeado e perdeste-te num universo imaginário, rodeado de sombras, de vozes, de caminhos.
4 da manhã. Dormias a seu lado, estranhando o seu odor desconhecido mas apetecível. Não podias ler mais! Começavas a trabalhar às oito em ponto!
Mas ainda poderias ler antes de chegar ao trabalho... poderias ler aquando da espera do metro, aquando do teu almoço solitário na cantina, aquando da ida ao médico, em vez de te concentrares nas conversas deprimentes e cinzentas dos outros pacientes.
Sorriste.
Sentias-te novamente viva e como se te tivesses apaixonado pela primeira vez. Uma sensação arrepiante percorreu-te! Sabias agora que aproveitando bem o teu tempo, conseguirias sempre laborar, conviver com os outros, afagar os teus e procurar-te um pouco nos braços do teu novo amigo – o livro.

T.G.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

O processo de RVC para mim foi...

Foi para mim muito importante.
Realizei-me ao frequentar o Centro de Novas Oportunidades para obter o nono ano.
Foi para mim um sonho muito expressivo na minha realização, embora tardia, mas obtive-a, consagrada pelos respectivos diplomas.
Quando me apercebi, pelos jornais diários, da criação das Novas Oportunidades, pensei que era uma oportunidade para concretizar o meu velho e saudoso sonho e continuar a estudar.
Dirigi-me ao Centro e vi se isso era possível ou não, já que tinha 83 anos de idade.
Recebeu-me um técnico. Pareceu-me que ficou admirado com a minha idade e deixou transparecer muita gentileza ao tratar-me bem e ao aceitar-me de boa-vontade no processo. Explicou-me tudo com a maior clareza e tratava-me sempre com deferência e generosidade. Chegou a dizer, em sessão, para todos os participantes: "O senhor Vitorino, apesar da sua idade avançada, vejam se não está ali atento como um jovem!".
As formadoras, no decorrer das sessões, sempre me estimaram e, quando se apercebiam que tinha alguma dificuldade, procuravam sempre ajudar-me. A turma que, pensava eu, me iria repudiar, sendo eu o mais velho ali presente, sempre me tratou como um patriarca.
Mas com 85 anos, quando acabei, senti-me outro e rejuvenescido, mais preparado para discursar em público, em qualquer situação!
No fim, fiquei com um certificado. Foi um marco para mim!
Vitorino Rocha
(RVC NB)

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

O Teatro e eu

Há pancadas!
E na sala o silêncio toma o seu lugar.
Corações batem mais forte, quando se ouve a frase:
O espectáculo vai começar!

Abre-se o pano e eu já não sou eu,
Ali já não existo, voei, transportei-me para um outro patamar:
Adormeci… e outro ser envolveu o meu corpo.
Sou o Zé Augusto,
Humilde, triste e cego.

Como é bom poder viver outra vida,
Outro personagem.
Poder exteriorizar sentimentos,
Raiva, ódio, paixão, prazer e loucura.

O teatro é sonho,
O teatro é entrega,
O teatro… é vida!

Penso em ti, sozinho,
Onde o palco é só meu…
E o teu sorriso vislumbro,
Numa ânsia de te ver.


Manuel Vilaça
(RVC NB)

Rosa Vermelha

Deténs um toque feminino
Muito exigente
Como que o mar enrola
Nos teus cabelos frisando-os
As brisas amaciarão
E darão a forma que tanto gostas
Teu corpo é poema nos seios com melodia
Só aceitas o que a tua alma desperta...
Procurei buscar
O teu olhar no meio das ondas
Senti a tua coragem
Em nela navegar aventura
Rosas soltam perfume da maresia
O vento sopra
Ao de leve
Como que um búzio...
Encostado no teu peito
Sentindo palpitações da paixão
Um mar cheio de pétalas vermelhas
Pétalas que se perdem num olhar
O silêncio pela angústia
Que esmorecem no tempo
Teus cabelos esvoaçam entre os dedos
Deslizando como um toque de silêncio
Silenciado pelo sufoco de um sentimento
Senti o estremecer
Das tuas mãos ao anoitecer
Desejos ardentes que não se apaguem
A imaginação também alimenta


Aniceto Pires
(RVC NS)

Uma proposta para o RVC Nível Secundário

As idades do homem

“O mundo inteiro é um palco
Todos os homens e mulheres não passam de actores,
Têm as suas entradas e as suas saídas;
E na sua vida desempenham muitos papéis;
Os seus actos têm sete idades.
Primeiro, a criança, gritando e babando nos braços da ama.
Depois o aluno chorão, com a sua pasta e a sua brilhante face matinal, vai-se arrastando como um caracol de má vontade para a escola.
E depois o apaixonado, suspirando como uma fornalha, com uma balada triste composta para a sobrancelha da sua namorada.
Mais tarde um soldado, cheio de estranhos juramentos, e barbado como um leopardo, zeloso de honra, e violento e rápido na luta, buscando a bolha de ar que é a fama até na boca do canhão.
E depois a vez do juiz, com a sua barriga redonda recheada por um bom capão, de olhos severos e a barba de corte formal, cheio de sábios refrões e exemplos modernos; E assim representa o seu papel.
A sexta idade se transforma em calças largas e chinelos, com óculos no nariz e a bolsa do lado, os seus calções da juventude, bem conservados, demasiadamente largos para as suas magras canelas; e a sua forte voz viril, transformando-se novamente em falsetes infantis, apita e assobia o seu som.
A última cena de todas, que põe fim a esta estranha história cheia de acontecimentos, é uma segunda infância e um simples esquecimento, sem dentes, sem olhos, sem paladar, sem nada.”


William Shakespeare

(Dramaturgo e poeta inglês, William Shakespeare é reconhecido como o maior dramaturgo de todos os tempos. Suas obras foram amplamente publicadas e traduzidas para todas as principais línguas do mundo. Nasceu em Abril de 1564 e morreu em 23 de Abril de 1616).

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Propomos-lhe que, após leitura do texto, reflicta sobre o seu teor e (re)veja-se numa perspectiva de si, sobre si e para si.

Reflicta sobre a sua experiência formadora, (adquirida ao longo da sua vida) como um processo de transformação e atribuição de sentido.

Componha a sua narrativa biográfica, tendo em vista o seu PRA, produzindo reflexões e estabelecendo compromissos, objectivos, desafios e estratégias.
Exercício proposto por:
C.Q.
E.O.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Caminhar

CAMINHAR

Caminhar significa muito mais
Que o simples gesto de mexer os pés numa direcção.
Caminhar é seguir numa estrada,
Onde os obstáculos da vida vão surgindo:
A tristeza,
A solidão,
A dor,
A doença…
É preciso que os meus pés saudáveis de todas as maleitas,
Saibam caminhar ao encontro do irmão que precisa de mim.
O caminho tortuoso da vida
É um livro fechado,
Que se vai abrindo a pouco e pouco,
Tornando visível o caminho de cada um traçado pelo destino.
Tenho que me lembrar sempre,
Que posso a qualquer momento deixar de caminhar,
E talvez aí repare o quão importante é na minha vida,
Repartir os meus passos com o irmão que sofre.
Que o meu caminho seja sempre feito com a consciência de que,
Devo abrandar a minha marcha
Quando ao longo do percurso,
O AMOR,
A AMIZADE,
A CARIDADE
E A ENTREGA
ME PÕEM À PROVA…

E FAÇA O FAVOR DE SER FELIZ!

Manuel Vilaça
(RVC NB)

domingo, 19 de outubro de 2008

Coleccionadores de experiências

2002.

Naquela sala maquinava-se o plano.

Iniciava-se a aventura.

A equipa, ainda jovem, ansiava por transformar aquele sonho em realidade. Os acetatos iam-se seguindo, uns aos outros, e o plano esbarrava, com impacto, na parede. O plano consistia em valorizar as experiências daqueles que ignoravam o manancial de competências que detinham. O desafio era convencê-los!

E foi assim que tudo começou.

Noite e dia, incansáveis, os escultores burilavam os coleccionadores de experiências, que nem pigmaleões a tentarem cinzelar os adultos ideais.
Percorriam-se caminhos sinuosos. Vagueavam pelos recantos escuros e silenciosos de Portugal. Por vezes chegavam a ser mais “filhos da noite”, pois as suas obras de arte só podiam, por vezes, ser lavradas durante o período nocturno.
Impacientavam-se, muitas das vezes, naqueles longos cursos, com os monstruosos transportadores de roldanas que, contava-se pelas aldeias, muitas vezes se desprendiam, indo a rebolar vertiginosamente para os campos dos amantes da terra. Buscavam forças nos momentos em que caixas transbordantes vomitavam, em plena cidade de Espinho, dossiers repletos de vidas. Encolerizavam-se quando salas, que deveriam estar impecavelmente limpas, exibiam no chão empoeirado restos de alface pisada, vestígios da festa da noite anterior. Engasgavam-se quando, por diversas vezes, os almoços tinham que ser engolidos sofregamente no assento de um carro.
E depois ouviam. Era a sua grande capacidade: o dom de ouvir em silêncio, sem soltar qualquer vocábulo. Escutavam com prazer para depois trabalhar a obra. Histórias. Umas férteis e jubilosas, outras tristes e atribuladas. Ouviam ininterruptamente sem pensar na açorda de marisco que fumegava naquele jantar de convívio; ouviam sem pensar na torre periclitante de documentos a ver para o dia seguinte; ouviam até os olhos e os ouvidos doerem, prenhos de vidas que não eram deles; ouviam abdicando, por momentos, das suas próprias vidas.
Acima de tudo partilhavam caminhos e saberes.
Mas as obras de arte iam surgindo e depois, esculpidas, desapareciam. Algumas perdiam-se sem deixar rasto; outras voltavam, de sorrisos gratos e vigorosos, ávidos por começar novos trilhos de sapiência.
T.G.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Retrato de um momento

“O essencial é invisível aos olhos. Só se vê bem com o coração.”
in “O Principezinho”, de Saint-Exupéry

Ao longe o mar.
No ar, um breve odor marítimo pintalgava o cenário campestre.
As portas deixavam sair o ruído metálico e contínuo das máquinas em movimento. Por detrás de cada máquina uma mulher de fato azul celeste. Por vezes, cirandavam pelos corredores alguns homens envergando batas de um verde suave.
Na sala, rostos exprimindo vidas coloridas, rugas traçando diversas histórias de vida.
Dificuldade inicial: fixar 62 nomes próprios de uma só vez.
Os dias iam avançando, as semanas passavam e os sorrisos iam-se alastrando. “Criavam-se laços”. Os olhos bombardeavam, dúbios, com perguntas ansiosas. Depois, as dúvidas dissiparam-se e os rostos amigáveis divertiam-se “destravando” a língua, libertando medos e angústias, desnudando a alma.
Como “papalaguis” sabedores atravessavam a lagoa de canoa. Tropeçavam em dificuldades mas logo voavam que nem “Fernãos” sonhadores em busca de respostas e de soluções para as suas dúvidas. De pena na mão, imaginaram palavras afectuosas a Tony Carreira, a Soraia Chaves, a Tony Ramos e viajaram até ilhas longínquas, narrando peripécias aquando de uma tempestade nocturna. Deleitaram-se, ainda, com paisagens nacionais, dentro de um comboio e sentiram a grandiosidade da música.
Os rostos, ausentes agora do trilho quotidiano, pululam nas bouças, cirandam por entre os pampilhos. Saltitam por detrás de cada rosa vermelha, por detrás de cada flor.
Abelhas que somos, dançando de flor em flor, tentando adocicar a vida de cada um, pincelando trilhos. Procuramos, que nem arqueólogos da vida, desocultar riquezas encobertas.
Ao longe o mar, ao longe gestos de grande beleza interior, ao longe sorrisos sinceros, ao longe olhares de esperança pousados num horizonte diferente.
Inícios de Outono.
Reencontro.
O local habitual de trabalho transformara-se. Vozes calaram a música repetitiva das máquinas. Seguiu-se uma entrega de diplomas memorável. 60 diplomas a escorregarem das mãos de alguém que normalmente se esconde e vagueia dentro da caixinha que mudou o mundo.
Emoções serpenteavam nas faces marcadas pela sapiência de vida. Risos rasgavam rostos gratos e o calor derretia a ansiedade fria que inicialmente os toldara. Levaram o diploma, a recordação e a saudade.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

A todo o Fernão Capelo Gaivota...

“Vê mais longe a gaivota que voa mais alto”
in "Fernão Capelo Gaivota", de Richard Bach


Tal como as gaivotas, também nós voamos, nem que seja somente em pensamento. No entanto, é preciso que o nosso pensamento se torne realidade. Para isso, é necessária a iniciativa porque a apatia e a passividade nunca concretizaram os sonhos de ninguém! É preciso olvidar os preconceitos, aquelas ideiazinhas das vozes da inveja que procuram impedir os nossos sonhos e que nos culpabilizam por os continuarmos a ter, apesar do avançar inexorável do tempo e da idade! É urgente preencher as nossas vidas, pintá-las com outras cores e perceber que ao atingirmos um horizonte, ao conseguirmos os nossos objectivos, é necessário ir em busca de outros!
T.G.